sexta-feira, 24 de outubro de 2008
O ninho
Há alguns meses recebi inquilinos que não foram convidados. Um casal de andorinhas decidiu fazer seu ninho na minha área de serviço, mais precisamente no lustre, plafon, ou o que quer que seja o nome dado àquilo que fica sobre a lâmpada.
Achei uma graça, às vezes ficava só observando eles carregarem folhas, gravetos e todo tipo de material disponível que pudesse servir para formar o ninho. Isso levou alguns dias, até que percebi que apenas uma das andorinhas (provavelmente o macho)é que saía com mais frequência do ninho.
Mais alguns dias e começaram a cair cascas de ovo, penas e alguns dejetos não muito bonitinhos. Apesar disso, o barulhinho, quase como conversas, dessas criaturas pela manhã e no fim da tarde sempre me agradou. Eu literalmente tomo café da manhã ao som de passarinhos, pois a cozinha tem uma porta e uma janela que dá diretamente na sacada da àrea de serviço, local escolhido pelo belo casalzinho.
Acontece que ontem cheguei em casa e me deparei com uma quantidade de dejetos muito maior que o usual. Considerando que minha faxineira não compareceu ao serviço, deduzi que eu não tinha noção nem da metade da sujeira que a família de andorinhas vinha fazendo, pois ela sempre limpava tudo antes que eu percebesse.
Me revoltei com a cocozada das criaturas e decidi que iria despejar os inquilinos!
Retirei o negócio da luz que servia de ninho, com bastante cuidado, afinal não sabia bem o que tinha lá.
Dei de cara com quatro bebês andorinhas, quietinhos, me encarando. Três estavam bem no centro do ninho, amontoados uns nos outros. O quarto já estava mais afastado, parecia mais independente. Quando coloquei o ninho na mesa, esse quarto pulou para o chão. Quase morri de susto e de remorso, imagina matar um bebê andorinha assim, sem querer?
Me senti um monstro, me bateu uma tristeza, fiquei envergonhada comigo mesma. Imagina que eu havia pensado em desfazer um ninho, o local mais seguro prá quatro criaturas inofensivas!
Não tive dúvidas, juntei o saltitante do chão, coloquei de volta no ninho e repus o ninho/plafon/lustre no teto de novo.
Fiquei esperando a andorinha mãe voltar. Ela veio e, graças a Deus, não notou nada, acho eu.
Hoje pela manhã, enquanto preparava o café, escutei os primeiros sons da família. Sol nascendo, passarinhos cantando. Me dei conta do privilégio que é ter, na sua casa, canto de pássaros, sem que para isso eles estejam em gaiolas.
Abri a porta e olhei feliz meus queridos inquilinos. Dizem que depois que os filhotes crescem, eles abandonam o ninho. Vou ficar esperando que na próxima estação eles retornem, para mais uma temporada na minha sacada.
Ilustração Jana Magalhães
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