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sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Sobre recomeçar

 Uma colecionadora de empreitadas. De projetos inacabados. De ímpetos. Pensando em tudo que já fiz, que iniciei, que deixei pela metade, me reconheço uma sonhadora compulsiva e impulsiva. Seja comprando o que não preciso mas que aparentemente irá salvar meus dias, comendo loucamente como se o mundo fosse terminar. Buscando por novos cursos, novos livros, novas séries, novos exercícios, novas fórmulas mágicas e especiais que irão finalmente dar um propósito à minha vida, à minha existência. O livro que nunca escrevo, os quilos que nunca perco, o equilíbrio que nunca encontro.

A roda gigante das emoções não para nunca e no momento está na sua volta do lado de baixo. Sensação de angústia, seja por estar em adaptação sem medicamentos, seja porque de alguma forma meu interior está bagunçado, em desequilibrio, entediado, frustrado e sem conseguir lidar de forma clara e realista com essas frustrações.

Dificuldade em estabelecer e aderir à rotinas de autocuidado. A autosabotagem está presente como um cinto de autoflagelo, sendo apertado cada vez mais, até sangrar. Ultrapasso meus limites emocionais tentando buscar por algum tipo de penitência. 

Recomeço. Retomo as aulas de psicanálise, minha tentativa em estabelecer uma rotina em algo que me traga prazer mas ao mesmo tempo conhecimento, propósito, sentido. Permaneço em eternos recomeços, mas afinal, é isso mesmo a vida, não? Recomeços diários, com infinitas possibilidades todos os dias. 

Tranquilizo. Esse texto iniciei há mais de 3 dias, e hoje relendo o início, percebo o quanto minha disposição, meus pensamentos e sentimentos já se transmutaram, alteraram. Aprender a esperar, refletir e silenciar é a melhor forma de apreciar a maior dádiva da vida e do passar do tempo: todo dia você tem uma chance de recomeçar. E se reinventar. Ainda bem.



quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Juntando cacos

Do encontro, a atração irresistível. Do primeiro beijo, a paixão inconfundível. Conhecer, aprender, desejar, conceder, sonhar e amar.Eram dois em um só, tão diferentes e tão iguais. Da paixão, surgiu o amor. Do amor, a calmaria. A rotina encarregou-se de mostrar as diferenças, de pesar os contrapontos, de enfrentar a distância. Os planos não eram os mesmos, as fases também não. Mas ainda assim, tinham a esperança,lembrando que dias melhores poderiam vir, mas ainda tão distantes...resolveram então, preservar o que se tinha de mais bonito, o amor nas diferenças, a amizade conquistada e o respeito reestebelecido.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Sobre terapia

Há seis meses estou sem a medicação para TDAH e compulsão alimentar. Há dois abandonei a medicação para a depressão. Fazia muito tempo que não me sentia em paz por estar justamente em paz comigo mesma. E estar em paz não significa estar sem problemas, sem angústias ou sem qualquer tipo de perrengue. Estar em paz é justamente estar consciente de que tudo isso faz parte e tudo bem. De que há altos e baixos, mas tudo bem. De que tem dias em que ando perambulando e só pensando em comer todas as coisas que encontro pela frente, principalmente após alguma situação gatilho ou sentimento mal resolvido, e tudo bem. Porque vai passar, porque faz parte. E eu dou conta.
Por muito tempo minha maior angústia era justamente não conseguir lidar com a angústia. Falta de autoconhecimento, não saber respeitar meus limites justamente por desconhecer quais eram esses limites. Vivendo numa montanha russa de emoções sem botão de emergência. Ou como "uma batedeira sem botão", definição de turbulência emocional que encontrei recentemente em uma música do Marcelo Jeneci e Laura Lavieri "Pra sonhar". Tá mas, como isso é possível? Terapia meus amores, muita psicanálise. Não trago promessas de cura, de resolução dos problemas ou a volta do ser amado em três dias. Mas posso garantir que, pelo menos para mim, esse processo de ter um espaço para falar, para refletir, sem julgamento, sem medo, tem sido transformador e libertador. Sei que nem todo mundo consegue, nem todo mundo tem acesso, que talvez a caminhada possa no início parecer muito mais dolorosa do que o lugar conhecido que vc já ocupa na inércia emocional em que vc se encontra, na zona de (des)conforto que vc ocupa e que por já ser conhecida, parece ser mais tolerável, mais segura.  Mas há um mundo inteirinho a ser descoberto ai dentro de você, pode confiar. Doi? Sim. Assusta? Também, certamente. Mas alivia, ah como alivia. E traz uma satisfação inenarrável. De estar consciente, de saber o que está se passando do lado de dentro sabe? Se a cura é possivel? Acredito que sim. Não essa que muitos procuram de forma rápida e indolor. Mas uma cura gradual e duradoura, é possivel, pode ter certeza. 

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Sobre o dia de ontem

De forma geral, mulheres tendem a gostar de manifestações românticas por parte do sexo oposto. Mas todas tem o real conhecimento do que é ser romântico? E sabem realmente do que gostam nesse romantismo todo? Do nosso querido amigo Aurélio, romântico é:
"adj. Relativo ao romantismo: literatura romântica. / Diz-se de quem nas idéias, no caráter ou no temperamento, revela algo de apaixonado, de nobre, de lírico, que o eleva acima do prosaico, do cotidiano: amante romântico. / Que evoca o estado de alma e as emoções próprias dos românticos: uma canção romântica. / Fig. Lírico, poético: palavras românticas. / Fig. Exaltado, arrebatado, apaixonado: temperamento romântico. / Fig. e Pej. Sentimental, piegas, meloso: novela romântica".
Com toda certeza fico com o primeiro significado concedido por nosso ilustre amigo. Este último significado, "sentimental, piegas, romântico, meloso", dispenso.
Eu devo ter passado um pouquinho longe ou um tanto distraída na fila dessa característica com essa conotação quando Deus me criou. Sempre fui meio desconfiada com cartas melosas, declarações em público ou chororôs exacerbados. Bilhetinhos apaixonados são fofos, mas nunca fizeram muito minha cabeça. Nunca fiquei sonhando com grandes surpresas que envolvessem pétalas de rosa espalhadas pelo chão, velas ou música de fundo. Será que sou anormal? Ou será que somente não dou muita importância a tudo isso?
O que sei é que sempre gostei que me tratassem com respeito, sem vozinhas infantilizadas. Que muito mais valem para mim atos que demonstram carinho e cuidado (como lembrar que meu preventivo está atrasado ou pedir uma sobremesa que ele nem gosta tanto mas que eu amo já que sempre peço um pouquinho da dele quando saímos pra jantar), do que demonstrações explícitas do amor através de violeiros ou de qualquer terceiro que nada tem a ver com o sentimento que pertence somente a mim e ao meu parceiro.
Sempre dei valor a uma boa conversa, a um ombro e um colo para chorar, um caráter forte e verdadeiro, e não somente a uma criatividade cheia de clichês de alguém que tenta te convencer do seu amor com momentos gracinha-arte-show-veja-como-me-lembro-de-você-sempre-de-forma-quase-doentia-porque-não-vivo-sem-você.
Aqui está outra coisa que sempre me tirou do sério e me fez ter arrepios, de medo, não de êxtase, a famosa frase: eu não vivo sem você. Sempre tive muito medo e fugi como o diabo foge da cruz de quem um dia me disse isso. Mas como assim, não vive sem mim? Como viveu até agora? E se um dia acabar, como vai fazer? Sim, porque, mesmo que seja lindo, o amor um dia pode acabar, a convivênvia pode se tornar insuportável, os dias podem não fazer mais sentido com quem um dia foi tido como o grande amor da sua vida e pior: esse sentimento pode ser unilateral, e ai como faz? E agora José? Tenho sim a certeza e a convicção de que o fim de um amor pode causar grande dor, profundo sentimento de perda ou de abandono, uma melancolia ou até mesmo, em casos mais severos, uma depressãozinha pós rompimento. Mas achar que a vida vai acabar, ou que não viverá mais sem a criatura, isso para mim já é um exagero.  Porque eu, particularmente, não tenho o hábito de passar tamanha responsabilidade para um terceiro, ainda mais quem não é ou não será nem de perto seu parente, uma vez que namorado, marido, amante, ou seja lá o status que o seu amor tem na sua vida, nunquinha o será.
Ele deve sim ser um parceiro, um amigo, alguém em quem confiar, em quem buscar apoio, carinho, companheirismo, interesses em comum ou não, uma vez que discordar e ter diferentes pontos de vista é saudável e faz bem, não somente a você como indivíduo mas também à relação a dois.
Mas o que eu quero mesmo com todo esse blá-blá de romantismo é lembrar a você, que anda achando sua vida ou seu parceiro muito pouco românticos, de que é preciso conhecer e reconhecer que tipo de romântico é o seu amor. Você pode estar aí, esperando que ele tente te trazer a lua ou as estrelas, que desfie um rosário de poemas melosos, ou que faça uma música para você sem nunca nem ter passado perto de um violão, ou ainda, que ele se torne sócio da floricultura da esquina para cada ausência ressentida ou beicinho que você faça quando estiver contrariada. E quando na verdade, pode estar deixando de notar um romântico mais refinado, mais seguro de si mesmo e da importância que tem na sua vida, que não deve ser medida através de atos isolados em datas especiais ou ainda a cada briguinha boba. O verdadeiro romântico, para mim, é aquele que se faz presente de forma constante, lúcida, educada, polida e por que não, recatada quando assim a ocasião se fizer necessária.
Rosas e poemas são sim bem vindos. Mas o dia-a-dia exige muito mais do que isso. E somente atitudes verdadeiras e com personalidade podem sustentar um romântico, sem que ele se torne um chato de galochas e rosas vermelhas nas mãos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Sobre memórias

Lendo um livro do Marcelo Rubens Paiva (Ainda Estou Aqui) me deparei com um fato irremediável: algum dia, todos os dias, amanhã mesmo, iremos esquecer ou apagar uma memória. E isso irá acontecer sem que percebamos. Por mais que tentemos, é impossível guardar tudo o que vivemos de forma nítida e segura em nossa mente. A medida que envelhecemos, nossas memórias, sejam elas afetivas  ou não, em algum momento, seletivamente, boa parte delas, serão esquecidas ou guardadas em lugares cada vez mais distantes nesse nosso emaranhado cerebral. Tenho memórias que por vezes são acionadas por cheiros, sons, sabores. Outras, tento buscar de forma consciente, porém me escorrem entre conexões e sinapses falhas, entre incertezas de nomes, lugares, tempo e espaço. E quando estiver mais velha? Sinto medo desta pergunta nesse exato momento. Pela primeira vez sinto que tenho medo de envelhecer, porque isso me aproxima demais do esquecer. Esquecer o som das vozes dos que amo, do cheiro dos meus filhos quando bebês, da risada solta dos natais em família, do calor de um abraço apertado, de uma música que me lembra de alguém, de uma história contada e recontada, dos primeiros passos, das primeiras palavras, do primeiro beijo, do último encontro, do livro preferido, do lembrar-se sem esforço. E nesse exercício me dou conta de que tanta coisa já foi esquecida. Esquecer é uma dádiva e faz parte da vida, já li isso em algum lugar, não lembro onde, de que o esquecimento é o que nos mantém sãos. Talvez no futuro eu não lembre mais que um dia eu não quis esquecer nada.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Do que não se explica

A cada nova tragédia, renovamos nossas certezas e nossos medos: ninguém está livre da morte, basta estarmos vivos, pois ela está sempre a nos espreitar.
A certeza da morte é inerente a qualquer ser humano. O que nos aflige é justamente o fato de nunca estarmos preparados.  A morte está sempre tão presente que acabamos por esquecê-la. Acho que esse esquecimento é o que nos retira um pouco o medo e nos permite vivermos dia a dia sem notá-la, sem esperá-la, para poder desfrutar das incertezas, das mudanças, das alegrias e tristezas que a vida nos dá.
Somente quando ela se aproxima, quando nos espia pela janela ao lado, quando se coloca em nossa sala de estar, em nosso ambiente de trabalho ou em nossa cidade é que nos lembramos de sua presença, de sua inquietude, da dor que nos faz sentir, da compaixão que em nós faz florescer, da solidariedade que brota em cada abraço, da saudade impregnada em cada lágrima, do choque que nos coloca de frente com a realidade: todos um dia morreremos. Uns cedo demais, outros com muito tempo vivido. Alguns após despedirem-se para sempre, outros com um até logo inocente. Alguns dizem que é a ordem das coisas, a natureza agindo, Deus abandonando, o destino traçando os caminhos. São várias e infindáveis as tentativas de justificativas, ainda que por vezes descabidas e vazias de razões, de nexo, de causa e efeito. Não há o que ser explicado, não há o que ser reduzido. Há que se viver a perda, a dor e a saudade, mesmo sem entendê-la, sem aceitá-la.
Quando o inexplicável dá lugar à ausência, à saudade e ao que foi perdido, nos vemos de frente com o inexorável sentido que devemos dar ao que temos de mais valioso: nosso hoje. Esse também uma certeza, assim como a morte. 
Que aqueles que sentem hoje a presença pesada da morte e da ausência, possam ter em suas mentes e em seus corações a certeza de que a dor é inevitável, o sofrimento imensurável, a saudade será uma constante, mas que a vida continua e que, os que aqui ficam, partilham do sentimento de que os abraços são o melhor gesto e o melhor lugar para se aconchegarem, hoje e sempre.
Por isso, deixo aqui meu abraço à toda família Sperry. O Gabriel agora é efetivamente um anjo, onde quer que ele esteja.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Tempo

O tempo que levamos para lembrar é infinitamente menor que o tempo que levamos para esquecer. O tempo que se arrasta na rotina é cruelmente inverso ao tempo que nos engole nos fins de semana de sol. O tempo que nos preocupamos com bobagens é ridiculamente maior que o tempo que ocupamos com nós mesmos. O tempo, o vento, o mesmo do mesmo. Vai tempo e voe.

Eu, eles, nós

  Faltavam exatamente sete horas para a cerimônia. Caminhava devagar, chutando uma pedra ali outra aqui, como se estivesse sem rumo, ainda...