sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Sobre retornar



Todas as vezes 

Em que permiti

Que meus gritos fossem silenciados

Minhas angústias diminuídas 

E minha força desacreditada


Me afastei 

De quem verdadeiramente sou

Para ser quem 

Idealmente acreditava ser melhor 


Uma versão minha 

Ao avesso

Aos tropeços 

Em pedaços e fragmentos 


Que só permitia mostrar 

Se não ousasse confrontar

Quebrantar

Revolucionar.


Me derramei 

Até não sobrar mais nada

Esvaziei os cestos de lixo emocional

As gavetas de memórias tóxicas 

E as caixas de verdades impostas.


Recomecei

E assim não me perdi

De quem eu sou

E de onde sempre pertenci.

Sobre ciclos


Ciclos

Ciclones

Tornado tornando-se canção

de um tempo que urge

Que grita

Por mais um dia

Mais uma volta

Torna a descer da montanha russa

E o ciclo

Ciclone

Não rompe nem esconde

A tormenta que ela tanto

Tenta em vão

Acalmar.

Ciclos

Ciclones...














sexta-feira, 26 de agosto de 2022

 

O curso de psicanálise entrou em minha vida da mesma forma que todos os outros projetos de estudo, carreira ou simplesmente hobbies que iniciei: motivada por uma busca incessante de significado e propósito prá vida. De pertencimento e também reconhecimento. Ainda que até então eu não soubesse, ou não admitisse ser esse o combustível de minha inconstância (muitas vezes sem lógica e sem explicação para mim mesma) ela sempre foi traduzida numa busca desenfreada por novos conhecimentos, leituras, novos cenários, pessoas e “tribos”. Novas e efêmeras emoções de prazer, de sentir-se bem, sentir-se reconhecida, protagonista. Uma nova persona a cada novo projeto, a cada nova experiência. Ouso dizer que começo a entender, ou pelo menos tentar entender, essa inconstância como sintoma, como sinal do que falta, mas também do que tenho em excesso. Sem mencionar as infinitas possibilidades de descobertas vindouras de um mar de pensamentos, sentimentos, desejos e o que mais a mente humana é capaz de produzir e armazenar, de forma consciente e inconsciente, o caminho que estou percorrendo através da psicanálise tem se mostrado não somente fascinante como também aterrorizante.

Sim: terror. Medo. Angústia. Raiva. Beleza. Compaixão. Empatia. Amor. Carinho. Pertencimento. Ressignificados. Reencontros. Despedidas. Como não acessar tais sensações quando iniciada de forma tão nua e crua a jornada através dos mecanismos de funcionamento daquilo que mais me encanta e ao mesmo tempo mais me assusta: minha própria mente e tudo que ela é capaz de ser, sentir, esconder, silenciar, gritar, compreender, enaltecer, retroceder, adoecer, transparecer, criar, amar, odiar, pulsar, apreender, conhecer, vivenciar, desejar.

Confesso que assim como em todas as outras vezes em que comecei uma nova empreitada, nesta também tinha aquela voz interna a me dizer: mais uma das tuas, não? Até onde você irá? Quanto tempo para desistir? E o que irá fazer, dizer, inventar quando mais essa “invencionice” (neologia necessária e com licença poética) se transformar em mais uma das tuas ideias mirabolantes, perfeitas, idealizadas e fracassadas por terem sido construídas no ar e sem fundamento? O Super Ego julgador e perfeitamente conveniente nos momentos em que meu Ego necessita bater em retirada para as rotas de fuga, já tentou se sobrepor. Já deu as caras por essa mente que tenta se posicionar de forma mais clara e verdadeira, sem tanto medo, tanta opressão e autopiedade. Um verdadeiro embate, digno de horas de insônia, de crises de ansiedade, mecanismos de defesa e fugas. Mas também de conhecimento, de resiliência, amadurecimento e sede. Sede de algo mais, de comprometimento, de motivação, de pertencimento. Sede de mim mesma, da minha essência e do que é essencial e vital.

Id, ego, super ego, eu. Mais alguns alter egos, algumas personas e toda minha criatividade e necessidade de tecer narrativas capazes de me manter em uma constante roda viva de possibilidades, indagações, questionamentos e inquietações. Uma mente inquieta, é o que sou. E acredito que mentes inquietas assim o são por muito terem sido silenciadas.

Mas a beleza da psicanálise está em justamente ser voz para todos esses silêncios, todos esses gritos mudos. Possibilidade em lançar luz e conhecimento àquilo que por muito tempo ficou sendo sufocado. Uma área de conhecimento em que o próprio conhecimento não é estático, não é ortodoxo e nem pré-concebido. Apesar de ter bases teóricas capazes de traçar e demarcar princípios, pilares e fundamentos essenciais para quem por ela se interessar e quiser ter um norte a seguir, um farol a iluminar a rota, o caminho a ser percorrido será único, exclusivo, personalizado e com horizontes com capacidade de expansão infinita e imensurável: tal qual nossa mente.

O primeiro módulo dessa jornada de formação em psicanálise foi ao mesmo tempo um soco no estômago e um afago. Um cair e levantar em espirais de emoções, racionalizações e movimentos de abertura e introspecção. Levei o triplo do tempo programado (idealizado?) para concluir, estive em lugares, pensamentos, sombras e escuridão que em outros tempos, seriam insuportáveis e me levariam a desistir. Mas só por hoje, eu escolho continuar. E amanhã também. Me comprometendo a vivenciar, aprender e estudar a psicanálise como uma forma de (re)conhecer quem eu sou de verdade. Ou pelo menos na medida do que eu for capaz de suportar e entender. Até descobrir novos limites e possibilidades dessa que com certeza é a mais extraordinária ferramenta humana: nossa mente. E tudo que ela possa significar. 

 

 

 

Sobre recomeçar

 Uma colecionadora de empreitadas. De projetos inacabados. De ímpetos. Pensando em tudo que já fiz, que iniciei, que deixei pela metade, me reconheço uma sonhadora compulsiva e impulsiva. Seja comprando o que não preciso mas que aparentemente irá salvar meus dias, comendo loucamente como se o mundo fosse terminar. Buscando por novos cursos, novos livros, novas séries, novos exercícios, novas fórmulas mágicas e especiais que irão finalmente dar um propósito à minha vida, à minha existência. O livro que nunca escrevo, os quilos que nunca perco, o equilíbrio que nunca encontro.

A roda gigante das emoções não para nunca e no momento está na sua volta do lado de baixo. Sensação de angústia, seja por estar em adaptação sem medicamentos, seja porque de alguma forma meu interior está bagunçado, em desequilibrio, entediado, frustrado e sem conseguir lidar de forma clara e realista com essas frustrações.

Dificuldade em estabelecer e aderir à rotinas de autocuidado. A autosabotagem está presente como um cinto de autoflagelo, sendo apertado cada vez mais, até sangrar. Ultrapasso meus limites emocionais tentando buscar por algum tipo de penitência. 

Recomeço. Retomo as aulas de psicanálise, minha tentativa em estabelecer uma rotina em algo que me traga prazer mas ao mesmo tempo conhecimento, propósito, sentido. Permaneço em eternos recomeços, mas afinal, é isso mesmo a vida, não? Recomeços diários, com infinitas possibilidades todos os dias. 

Tranquilizo. Esse texto iniciei há mais de 3 dias, e hoje relendo o início, percebo o quanto minha disposição, meus pensamentos e sentimentos já se transmutaram, alteraram. Aprender a esperar, refletir e silenciar é a melhor forma de apreciar a maior dádiva da vida e do passar do tempo: todo dia você tem uma chance de recomeçar. E se reinventar. Ainda bem.



Sobre psicanálise

 O curso de psicanálise entrou em minha vida da mesma forma que todos os outros projetos de estudo, carreira ou simplesmente hobbies que iniciei: motivada por uma busca incessante de significado e propósito prá vida. De pertencimento e também reconhecimento. Ainda que até então eu não soubesse, ou não admitisse ser esse o combustível de minha inconstância (muitas vezes sem lógica e sem explicação para mim mesma) ela sempre foi traduzida numa busca desenfreada por novos conhecimentos, leituras, novos cenários, pessoas e “tribos”. Novas e efêmeras emoções de prazer, de sentir-se bem, sentir-se reconhecida, protagonista. Uma nova persona a cada novo projeto, a cada nova experiência. Ouso dizer que começo a entender, ou pelo menos tentar entender, essa inconstância como sintoma, como sinal do que falta, mas também do que tenho em excesso. Sem mencionar as infinitas possibilidades de descobertas vindouras de um mar de pensamentos, sentimentos, desejos e o que mais a mente humana é capaz de produzir e armazenar, de forma consciente e inconsciente, o caminho que estou percorrendo através da psicanálise tem se mostrado não somente fascinante como também aterrorizante. 
Sim: terror. Medo. Angústia. Raiva. Beleza. Compaixão. Empatia. Amor. Carinho. Pertencimento. Ressignificados. Reencontros. Despedidas. Como não acessar tais sensações quando iniciada de forma tão nua e crua a jornada através dos mecanismos de funcionamento daquilo que mais me encanta e ao mesmo tempo mais me assusta: minha própria mente e tudo que ela é capaz de ser, sentir, esconder, silenciar, gritar, compreender, enaltecer, retroceder, adoecer, transparecer, criar, amar, odiar, pulsar, apreender, conhecer, vivenciar, desejar.
Confesso que assim como em todas as outras vezes em que comecei uma nova empreitada, nesta também tinha aquela voz interna a me dizer: mais uma das tuas, não? Até onde você irá? Quanto tempo para desistir? E o que irá fazer, dizer, inventar quando mais essa “invencionice” (neologia necessária e com licença poética) se transformar em mais uma das tuas ideias mirabolantes, perfeitas, idealizadas e fracassadas por terem sido construídas no ar e sem fundamento? O Super Ego julgador e perfeitamente conveniente nos momentos em que meu Ego necessita bater em retirada para as rotas de fuga, já tentou se sobrepor. Já deu as caras por essa mente que tenta se posicionar de forma mais clara e verdadeira, sem tanto medo, tanta opressão e autopiedade. Um verdadeiro embate, digno de horas de insônia, de crises de ansiedade, mecanismos de defesa e fugas. Mas também de conhecimento, de resiliência, amadurecimento e sede. Sede de algo mais, de comprometimento, de motivação, de pertencimento. Sede de mim mesma, da minha essência e do que é essencial e vital.
Id, ego, super ego, eu. Mais alguns alter egos, algumas personas e toda minha criatividade e necessidade de tecer narrativas capazes de me manter em uma constante roda viva de possibilidades, indagações, questionamentos e inquietações. Uma mente inquieta, é o que sou. E acredito que mentes inquietas assim o são por muito terem sido silenciadas.
Mas a beleza da psicanálise está em justamente ser voz para todos esses silêncios, todos esses gritos mudos. Possibilidade em lançar luz e conhecimento àquilo que por muito tempo ficou sendo sufocado. Uma área de conhecimento em que o próprio conhecimento não é estático, não é ortodoxo e nem pré-concebido. Apesar de ter bases teóricas capazes de traçar e demarcar princípios, pilares e fundamentos essenciais para quem por ela se interessar e quiser ter um norte a seguir, um farol a iluminar a rota, o caminho a ser percorrido será único, exclusivo, personalizado e com horizontes com capacidade de expansão infinita e imensurável: tal qual nossa mente.
O primeiro módulo dessa jornada de formação em psicanálise foi ao mesmo tempo um soco no estômago e um afago. Um cair e levantar em espirais de emoções, racionalizações e movimentos de abertura e introspecção. Levei o triplo do tempo programado (idealizado?) para concluir, estive em lugares, pensamentos, sombras e escuridão que em outros tempos, seriam insuportáveis e me levariam a desistir. Mas só por hoje, eu escolho continuar. E amanhã também. Me comprometendo a vivenciar, aprender e estudar a psicanálise como uma forma de (re)conhecer quem eu sou de verdade. Ou pelo menos na medida do que eu for capaz de suportar e entender. Até descobrir novos limites e possibilidades dessa que com certeza é a mais extraordinária ferramenta humana: nossa mente. E tudo que ela possa significar. 

 

 

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Juntando cacos

Do encontro, a atração irresistível. Do primeiro beijo, a paixão inconfundível. Conhecer, aprender, desejar, conceder, sonhar e amar.Eram dois em um só, tão diferentes e tão iguais. Da paixão, surgiu o amor. Do amor, a calmaria. A rotina encarregou-se de mostrar as diferenças, de pesar os contrapontos, de enfrentar a distância. Os planos não eram os mesmos, as fases também não. Mas ainda assim, tinham a esperança,lembrando que dias melhores poderiam vir, mas ainda tão distantes...resolveram então, preservar o que se tinha de mais bonito, o amor nas diferenças, a amizade conquistada e o respeito reestebelecido.

Desencontro

O descompasso que às vezes ronda
Serve para lembrar 
Que às vezes é insano 
O amar, o estar e o dialogar.

Sobre o que sente

Vê o tempo passar em dias, semanas e meses que correm sem piedade. Às vezes a sensação de coisas inacabadas, imperfeitas e merecedoras de mais atenção a deixam melancólica, insatisfeita, mal humorada. Procura em vão na leitura uma maneira de fugir do que por vezes é inevitável: a verdade dos fatos. Os romances não resolvem seu problema. As doutrinas, as leis e todo o tipo de legalidade a ronda dia e noite, noite e dia, o que causa às vezes a imensa vontade de queimar todos os volumes. Mas qual! São esses que irão abrir-lhe as portas para tudo aquilo que ainda não conquistou, aquilo que sempre sonhou e qua ainda está por vir. Só estará completa quando chegar lá. Mas o "lá" muitas vezes parece distante, um caminho longo a ser seguido, em que estará só com ela e seus livros, enfrentando as incertezas, as angústias, o cansaço. Ainda assim, sente-se nauseada quando constata que está, como diria sua avó, a reclamar de barriga cheia. És uma privilegiada, dizem alguns. Reconhece o privilégio de ter a oportunidade de correr atrás dos sonhos, de encontrar o suporte necessário e a força que a motiva. Entretanto, quando chega o fim do dia, da semana ou do mês, mesmo depois de todo o esforço, se sente sem chão, sem pertencer à alguma coisa ou algum lugar. Pertencimento. Esse sentimento que por vezes não reconhece e que a adoece.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Sobre o peso do sentir

Você sempre achou que a culpa era sua

Por sentir demais

Amar demais

Odiar demais

Ser melancólica demais

O problema não é sentir tudo isso

Mas sim sentir e não ser compreendida 

Não ser acolhida 

E ainda depois de sentir tudo isso

E sentir-se culpada e pesada por tanto sentimento 

Ser julgada 

Subjugada 

E rotulada 

A louca

A histérica 

A estúpida 

A burra 

A sonhadora 

A enganadora 

A preguiçosa 

A desleixada 

A louca da casa 

Sem motivo - dizem 

Afinal de contas, 

Sentir não é nada não é? Não é palpável 

Isso não fere 

Não adoece 

Não dá motivos 

Afinal, a vida é tão perfeitamente perfeita - consideram

E você é tão absolutamente sem noção - assim julgam 

Então se coloque no seu lugar 

Se recomponha

Se contenha - ordenam

Mas ela escuta uma voz interna 

Nesses momentos de insensatez: 

Você não pode controlar o que te dizem

Apenas o que você sente

Diante do que te falam

E a escolha é sua

 Permanecer ou partir

 Silenciar ou falar. 

Sentir ou deixar de existir.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Sobre terapia

Há seis meses estou sem a medicação para TDAH e compulsão alimentar. Há dois abandonei a medicação para a depressão. Fazia muito tempo que não me sentia em paz por estar justamente em paz comigo mesma. E estar em paz não significa estar sem problemas, sem angústias ou sem qualquer tipo de perrengue. Estar em paz é justamente estar consciente de que tudo isso faz parte e tudo bem. De que há altos e baixos, mas tudo bem. De que tem dias em que ando perambulando e só pensando em comer todas as coisas que encontro pela frente, principalmente após alguma situação gatilho ou sentimento mal resolvido, e tudo bem. Porque vai passar, porque faz parte. E eu dou conta.
Por muito tempo minha maior angústia era justamente não conseguir lidar com a angústia. Falta de autoconhecimento, não saber respeitar meus limites justamente por desconhecer quais eram esses limites. Vivendo numa montanha russa de emoções sem botão de emergência. Ou como "uma batedeira sem botão", definição de turbulência emocional que encontrei recentemente em uma música do Marcelo Jeneci e Laura Lavieri "Pra sonhar". Tá mas, como isso é possível? Terapia meus amores, muita psicanálise. Não trago promessas de cura, de resolução dos problemas ou a volta do ser amado em três dias. Mas posso garantir que, pelo menos para mim, esse processo de ter um espaço para falar, para refletir, sem julgamento, sem medo, tem sido transformador e libertador. Sei que nem todo mundo consegue, nem todo mundo tem acesso, que talvez a caminhada possa no início parecer muito mais dolorosa do que o lugar conhecido que vc já ocupa na inércia emocional em que vc se encontra, na zona de (des)conforto que vc ocupa e que por já ser conhecida, parece ser mais tolerável, mais segura.  Mas há um mundo inteirinho a ser descoberto ai dentro de você, pode confiar. Doi? Sim. Assusta? Também, certamente. Mas alivia, ah como alivia. E traz uma satisfação inenarrável. De estar consciente, de saber o que está se passando do lado de dentro sabe? Se a cura é possivel? Acredito que sim. Não essa que muitos procuram de forma rápida e indolor. Mas uma cura gradual e duradoura, é possivel, pode ter certeza. 

Mosaico

 A ideia de mosaico me agrada Cacos e pedaços do que um dia já foi inteiro Formando uma nova versão daquilo que um dia foi quebrado Mas aind...