sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Pequenos contos - Encontros e desencontros

Um aviso de mensagem piscou na tela do celular. Não fazia mais do que cinco minutos, havia pensado nele. Na verdade, desde o dia anterior, mini flash backs de uma noite de verão rondavam suas divagações nostálgicas de maneira recorrente, insistente. Prenúncio dos fios do destino se tecendo e reconectando? Seriam assim os sinais que o universo dispara em conspirações de acasos e desencontros? Lembrou da última vez que haviam conversado e o exato momento em que uma frase dela pode ter mudado toda uma história: "acho que devemos continuar apenas amigos".
A mensagem recebida minutos antes era despretensiosa, coisa de velhos amigos, separados pelo tempo e pelas escolhas que de alguma maneira selaram o fim de algumas possibilidades e tornaram possíveis outras tantas. Sentiu uma alegria e um alívio, pois apesar de tanto tempo, tantos caminhos e descaminhos, encontros e desencontros, eram ainda os mesmos. O tom da conversa parecia ser apenas a continuação do que deveria ter sido há mais de dez anos. Ou pelo menos um gostinho do que poderia ter sido apesar dos pesares, das afinidades nunca compartilhadas ou descobertas, do senso de humor recíproco e do reconhecimento de almas que já se esbarraram e que por algum motivo não se conectaram no devido tempo, deixando um vazio reconhecido e compartilhado pelos dois, uma possibilidade que ficou engavetada depois da sentença derradeira "apenas amigos".
"Deveríamos ter continuado bêbados no dia seguinte" foi o que ele disse quando ela sem pudor confessou que também tinha boas memórias daquela noite. "Merda de timing!" Constatou ela entre as verdades que precisam ser ditas quando a oportunidade aparece. O timing. Ele também tinha certeza de que em algum momento os dois se perderam por conta disso. O maldito tempo e a maturidade, aquela visão de cima das situações que definem os caminhos que seguimos e que, invariavelmente, logicamente, só se fazem presentes de forma prática e eficiente depois de alguns anos de terapia, muitas noites em claro e amores findos que poderiam ter sido.
Mas o engraçado é que ela sabia que sempre se sentira assim com relação a ele, e sabia também que algum dia teria a oportunidade de falar sobre isso. E se deu conta de que nunca criara nenhum tipo de expectativa. E por isso mesmo a reação e as palavras que dele vinham não eram surpresa para ela. Simplesmente eram como ela teria imaginado, se algum dia tivesse criado qualquer situação hipotética. Porque enfim sentiam o mesmo. Faltou tempo. Oportunidade para algo que poderia ter sido. E independente do resultado que as coisas tomassem, no mínimo teria sido bom. Muito bom. E isso que talvez ainda a leve a pensar "e se?". Porque pior do que descobrir que poderia não dar certo, é ter a certeza de que a tentativa teria sido no mínimo um caminho cheio de descobertas e possibilidades.
Avisa que precisa embarcar no voo que a levará para mais uma teia de fios que o destino conectou a tantos nós desde que se viram pela última vez. Justamente quando ele está voltando, ela está indo. Mas não se sente traída pelo acaso. O tempo já se encarregou de ensinar que na verdade tudo acontece exatamente quando tem que acontecer. E que somente o passado está findo e acabado. O futuro ainda é um mar de possibilidades, navegável conforme a força dos ventos e o tamanho das velas que o barco carrega. E, bem, ela está devagar, adentrando o mar, sentindo o vento novamente ditar o rumo das coisas, aprendendo a gostar do ritmo das ondas, sem pressa de chegar, onde quer que os ventos possam a levar. Ou o próximo voo rumo ao céu de Gibraltar.

Mosaico

 A ideia de mosaico me agrada Cacos e pedaços do que um dia já foi inteiro Formando uma nova versão daquilo que um dia foi quebrado Mas aind...