Havia quase 10 anos desde que tinha mudado completamente sua vida.
Uma proposta de trabalho foi suficiente para o desvio do rumo de todos os planos já praticamente consolidados, a mudança de cidade e consequentemente, o distanciamento do que fora construído em uma vida toda.
Foi por acaso que encontrou, em uma loja no cento da cidade, uma amiga da antiga turma. Quanto tempo, como você está, todo mundo sentiu tua falta, eu também me mudei, mas e ai guria, como não deu mais notícias? O repertório básico dos encontros nostálgicos que encantam no primeiro momento, para depois deixar uma sensação de vazio, de não mais pertencer a você tudo aquilo que em questão de segundos foi resgatado da memória.
Despediram-se, sem nem ao menos trocarem telefones, e-mail ou qualquer forma de contato, como se isso não fosse necessário, como se no dia seguinte fossem se encontrar, como antigamente.
Passou o resto do dia melancólica, com a sensação de que alguma coisa ficara perdida no tempo, no espaço que antecedeu toda a vida que conhecia desde o dia em que partiu da cidade natal e decidiu que faria tudo diferente.
Sentia saudades das pessoas sim, dos momentos bons que viveu e de tudo que ficara para trás. Mas o que mais doía e dava a sensação de ter perdido algo, era a saudade de si mesma. Da pessoa que era naquele tempo. Não que não estivesse feliz consigo mesma agora, mas era estranho pensar em si e não encontrar mais o que fora.
Será que mudara tanto? E teria sido para melhor? Impossível mensurar. Situações diferentes, idades diferentes, pessoas diferentes, sonhos diferentes.
Chegou em casa, abriu a porta e sentiu o cheiro gostoso de comida que vinha no ar e a música suave que tocava na sala.
Imediatamente, sentiu-se confortada. Ele já a esperava com o jantar, como de costume. Era muita sorte que ela, uma nulidade completa no quesito cozinha, tivesse encontrado alguém que amasse cozinhar.
A melancolia passou, a saudade deu lugar a uma completa certeza de quem ela era e que assim estava tudo no seu devido lugar.Quem fora, o que vivera, estava muito bem catalogado nos melhores momentos de sua vida, nas caixinhas mentais que ao longo do tempo vão se formando na memória.
Não sentiu mais o vazio, nem a sensação de perda. Encontrou-se novamente. Afinal, havia retornado para casa.
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3 comentários:
Que belo conto. Maduros e doces pensamentos.
Como andas minha querida?
Um beijao
Marie
Oi Marie!
Esperando pelo fim do ano, pelas festas em família, pelas férias...revigorar-se é a palavra de ordem!
bjos
muito bom!
Que linda maneira de escrever uma narrativa Claudia! Parabéns!
Pois é.....as pessoas mudam mesmo sendo as mesmas de outrora, os lugares mudam mesmo estando no mesmo lugar...
O tempo nada mais é do que uma mudança contínua do espaço que vivemos. Utilize tudo de bom do passado pra te ajudar a construir seu futuro.
beijos
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