segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Do que não se explica

A cada nova tragédia, renovamos nossas certezas e nossos medos: ninguém está livre da morte, basta estarmos vivos, pois ela está sempre a nos espreitar.
A certeza da morte é inerente a qualquer ser humano. O que nos aflige é justamente o fato de nunca estarmos preparados.  A morte está sempre tão presente que acabamos por esquecê-la. Acho que esse esquecimento é o que nos retira um pouco o medo e nos permite vivermos dia a dia sem notá-la, sem esperá-la, para poder desfrutar das incertezas, das mudanças, das alegrias e tristezas que a vida nos dá.
Somente quando ela se aproxima, quando nos espia pela janela ao lado, quando se coloca em nossa sala de estar, em nosso ambiente de trabalho ou em nossa cidade é que nos lembramos de sua presença, de sua inquietude, da dor que nos faz sentir, da compaixão que em nós faz florescer, da solidariedade que brota em cada abraço, da saudade impregnada em cada lágrima, do choque que nos coloca de frente com a realidade: todos um dia morreremos. Uns cedo demais, outros com muito tempo vivido. Alguns após despedirem-se para sempre, outros com um até logo inocente. Alguns dizem que é a ordem das coisas, a natureza agindo, Deus abandonando, o destino traçando os caminhos. São várias e infindáveis as tentativas de justificativas, ainda que por vezes descabidas e vazias de razões, de nexo, de causa e efeito. Não há o que ser explicado, não há o que ser reduzido. Há que se viver a perda, a dor e a saudade, mesmo sem entendê-la, sem aceitá-la.
Quando o inexplicável dá lugar à ausência, à saudade e ao que foi perdido, nos vemos de frente com o inexorável sentido que devemos dar ao que temos de mais valioso: nosso hoje. Esse também uma certeza, assim como a morte. 
Que aqueles que sentem hoje a presença pesada da morte e da ausência, possam ter em suas mentes e em seus corações a certeza de que a dor é inevitável, o sofrimento imensurável, a saudade será uma constante, mas que a vida continua e que, os que aqui ficam, partilham do sentimento de que os abraços são o melhor gesto e o melhor lugar para se aconchegarem, hoje e sempre.
Por isso, deixo aqui meu abraço à toda família Sperry. O Gabriel agora é efetivamente um anjo, onde quer que ele esteja.

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