sexta-feira, 26 de agosto de 2022

 

O curso de psicanálise entrou em minha vida da mesma forma que todos os outros projetos de estudo, carreira ou simplesmente hobbies que iniciei: motivada por uma busca incessante de significado e propósito prá vida. De pertencimento e também reconhecimento. Ainda que até então eu não soubesse, ou não admitisse ser esse o combustível de minha inconstância (muitas vezes sem lógica e sem explicação para mim mesma) ela sempre foi traduzida numa busca desenfreada por novos conhecimentos, leituras, novos cenários, pessoas e “tribos”. Novas e efêmeras emoções de prazer, de sentir-se bem, sentir-se reconhecida, protagonista. Uma nova persona a cada novo projeto, a cada nova experiência. Ouso dizer que começo a entender, ou pelo menos tentar entender, essa inconstância como sintoma, como sinal do que falta, mas também do que tenho em excesso. Sem mencionar as infinitas possibilidades de descobertas vindouras de um mar de pensamentos, sentimentos, desejos e o que mais a mente humana é capaz de produzir e armazenar, de forma consciente e inconsciente, o caminho que estou percorrendo através da psicanálise tem se mostrado não somente fascinante como também aterrorizante.

Sim: terror. Medo. Angústia. Raiva. Beleza. Compaixão. Empatia. Amor. Carinho. Pertencimento. Ressignificados. Reencontros. Despedidas. Como não acessar tais sensações quando iniciada de forma tão nua e crua a jornada através dos mecanismos de funcionamento daquilo que mais me encanta e ao mesmo tempo mais me assusta: minha própria mente e tudo que ela é capaz de ser, sentir, esconder, silenciar, gritar, compreender, enaltecer, retroceder, adoecer, transparecer, criar, amar, odiar, pulsar, apreender, conhecer, vivenciar, desejar.

Confesso que assim como em todas as outras vezes em que comecei uma nova empreitada, nesta também tinha aquela voz interna a me dizer: mais uma das tuas, não? Até onde você irá? Quanto tempo para desistir? E o que irá fazer, dizer, inventar quando mais essa “invencionice” (neologia necessária e com licença poética) se transformar em mais uma das tuas ideias mirabolantes, perfeitas, idealizadas e fracassadas por terem sido construídas no ar e sem fundamento? O Super Ego julgador e perfeitamente conveniente nos momentos em que meu Ego necessita bater em retirada para as rotas de fuga, já tentou se sobrepor. Já deu as caras por essa mente que tenta se posicionar de forma mais clara e verdadeira, sem tanto medo, tanta opressão e autopiedade. Um verdadeiro embate, digno de horas de insônia, de crises de ansiedade, mecanismos de defesa e fugas. Mas também de conhecimento, de resiliência, amadurecimento e sede. Sede de algo mais, de comprometimento, de motivação, de pertencimento. Sede de mim mesma, da minha essência e do que é essencial e vital.

Id, ego, super ego, eu. Mais alguns alter egos, algumas personas e toda minha criatividade e necessidade de tecer narrativas capazes de me manter em uma constante roda viva de possibilidades, indagações, questionamentos e inquietações. Uma mente inquieta, é o que sou. E acredito que mentes inquietas assim o são por muito terem sido silenciadas.

Mas a beleza da psicanálise está em justamente ser voz para todos esses silêncios, todos esses gritos mudos. Possibilidade em lançar luz e conhecimento àquilo que por muito tempo ficou sendo sufocado. Uma área de conhecimento em que o próprio conhecimento não é estático, não é ortodoxo e nem pré-concebido. Apesar de ter bases teóricas capazes de traçar e demarcar princípios, pilares e fundamentos essenciais para quem por ela se interessar e quiser ter um norte a seguir, um farol a iluminar a rota, o caminho a ser percorrido será único, exclusivo, personalizado e com horizontes com capacidade de expansão infinita e imensurável: tal qual nossa mente.

O primeiro módulo dessa jornada de formação em psicanálise foi ao mesmo tempo um soco no estômago e um afago. Um cair e levantar em espirais de emoções, racionalizações e movimentos de abertura e introspecção. Levei o triplo do tempo programado (idealizado?) para concluir, estive em lugares, pensamentos, sombras e escuridão que em outros tempos, seriam insuportáveis e me levariam a desistir. Mas só por hoje, eu escolho continuar. E amanhã também. Me comprometendo a vivenciar, aprender e estudar a psicanálise como uma forma de (re)conhecer quem eu sou de verdade. Ou pelo menos na medida do que eu for capaz de suportar e entender. Até descobrir novos limites e possibilidades dessa que com certeza é a mais extraordinária ferramenta humana: nossa mente. E tudo que ela possa significar. 

 

 

 

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