quinta-feira, 7 de março de 2024

Sobre acolhimento

Escrever sobre emoções é sempre um mergulho no infinito de possibilidades que encontramos dentro de nós mesmos. Me vejo sendo instigada a escrever sobre algo que eu amo, ou odeio ou me deixa irritada ou feliz. Parece um exercício fácil de escrita, mas quando começo a pensar nesses sentimentos me sinto sendo julgada, principalmente se o tema for ira, ódio, incômodo. Uma vida inteira passei tentando ser a boa menina, a que não erra e não decepciona; logo as chances de ser rejeitada ou de ser mal vista reduziriam. Ao longo dos anos consegui criar uma concha densa de medos, mágoas e incertezas. Uma concha que há muito me permito sair de vez em quando e explorar o entorno, livre desses sentimentos. Mas por vezes me vejo tentada a voltar pra ela. E volto, sinto, me reconecto com a criança interior que chora e sente-se julgada e inadequada. E vejo, de forma clara, que reconheço que me pertence tudo o que passei, o que vivi e o que senti. E uso como ferramenta justamente pra me reconectar com a adulta que me tornei e que, ainda que de forma silenciosa e às vezes modesta, se sente orgulhosa dos espaços que vem ocupando, das conquistas alcançadas e dos afetos cultivados. Acolher nossa criança do passado nos permite ressignificar e amar nosso adulto do presente. Acolha-se.

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