Então é natal

Essa aconteceu comigo ontem.
Deixei o carro do meu irmão na concessionária para uma revisão. Marcaram um horário para me buscar quando o carro estivesse pronto. Após 45 minutos de atraso, pézinho batendo irritado e um compromisso quase já indo pelos ares, aparece a motorista do leva e traz, uma senhora muito simpática e falante. Pediu mil desculpas, tentou se explicar, mas a minha fúria estava nas alturas. Porque sou uma criatura muito calma e compreensiva, mas por favor NUNCA me deixe esperando sem uma ótima justificativa para o atraso.
Bom, contei até dez, afinal estamos em dezembro, eu estava carregada de compras de natal e o espírito natalino assoprava no meu ouvido que eu deveria relevar e deixar passar. Sorri simpática e emiti um sonoro "tudo bem, acontece não é?" e seguimos para a concessionária.
Chegando lá, o rapaz encarregado do meu atendimento me recepcionou, sem antes deixar transparecer que estava louco para ir embora, afinal já era quase seis horas da tarde. Imediatamente reclamei de forma polida e entre sorrisos que a culpa era deles mesmos, afinal não tinham me apanhado no horário marcado e que inclusive eu já estava perdendo um compromisso (eu estava em Chapecó e ainda tinha que voltar para Nonoai, minha terrinha, para uma formatura às 19h...). Ele percebeu minha ira mal disfarçada e rapidamente começou a se desculpar. Foi aí que ele podia ter ficado calado. Impressionante como as pessoas perdem ótimas oportunidades em calarem suas boquinhas. Vou transcrever o diálogo tal e qual porque foi muito divertido (para mim), no final das contas:
- Pois é dona Cláudia, nos desculpe. Mas sabe como é, a motorista é nova na empresa, começou a pouco.
- Não, tudo bem , só estou falando pra não acontecer da próxima vez. Mas tudo bem, acontece.
Nesse momento ele deveria ter dito um "da próxima vez não ocorrerá atrasos, peço desculpas novamente" e tudo estaria bem. Mas não. Eis que a criatura me vem com essa:
- E também sabe como é, mulher no volante, nesse trânsito, só pode atrasar.
Eu não aguentei. Olhei bem pra ele, com um sorriso do tipo "vc tá de brincadeira comigo eu vou te esganar", ele já vermelho, procurando um buraco pra se esconder ou a porta mais próxima no caso de precisar sair correndo, e gentilmente pronunciei calmamente mas sem antes rir muito:
- Eu sou mulher, dirijo muito bem obrigado e não costumo me atrasar no trânsito.
Ele não sabia o que fazer, tentou consertar com um "eu não quis dizer você, mas ela..." e foi por ai afora, piorando aindo mais o que ele já tinha dito.
No fim, fiquei com pena do pobre rapaz, mas me diverti muito com a cara de pavor dele, que pra compensar todas as gafes e frases impróprias do dia deu um jeito de agilizar o pagamento do serviço e ainda me deu um desconto como cortesia, encerrando o episódio com um feliz natal e desaparecendo da minha frente. O que fez de modo acertado, porque para completar toda a cena, a máquina do cartão de crédito resolveu dar pau justamente na minha vez, o que me fez sentir um tremendo arrependimento de não ter de fato esganando ele.
Mas é natal, a moça do caixa era bem simpática e ainda parcelou em quatro vezes sem juros o que deveria ser pago de uma vez só, e todos saimos felizes e satifeitos e com votos de feliz natal e próspero ano novo, afinal o "espírito natalino" está em todos os lugares, até mesmo nas compensações oferecidas a consumidores furiosos.

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