terça-feira, 4 de abril de 2023

 Na última resenha que encaminhei ao curso de psicanálise, consegui colocar em palavras a angústia que me acompanha desde sempre: o medo de falhar, de ser imperfeita aos olhos do outro. Esse medo por diversas vezes paralisante, já me deixou em lugares sombrios e silenciosos, em estagnação física e mental capazes de abrir buracos infinitos de vazio e tristeza. A sensação de impotência gera cada vez mais medo e mais paralisia. O ciclo vicioso da procrastinação por medo de falhar, por medo de decepcionar.

A devolutiva da professora que fez a análise de meu texto veio com um questionamento: você consegue enxergar o que você já conseguiu conquistar, e não somente o que não consquistou? Isso fez com que voltasse meus olhos e meus pensamentos para tudo que por diversas vezes, ainda que tenha sido fruto do meu esforço e de minha dedicação, eu não tenha dado a importância e nem o valor como conquista. A dificuldade em reconhecer em mim mesma a capacidade de ser suficientemente boa. De ter feito coisas que mereçam reconhecimento e aplauso. Parece que estou sempre em busca de algo além daquilo que já conquistei. E olhando para trás, com uma lupa mais amigável, mais empática e mais condescendente comigo mesma, preciso admitir: já fiz tanta coisa que devo me orgulhar. Eu sou alguém por quem devo me orgulhar. E ainda posso ser e fazer muito mais. 

Mas velhos hábitos são difíceis de mudar. Comportamentos repetitivos, reforçados por um ambiente e dinâmica familiar, e um relacionamento em que meus medos e minhas inseguranças são, ou reforçadas ou minimizadas, ridicularizadas ou paulatinamente usadas como munição em momentos de crise e de conflito, dificultam por diversas vezes a saída do ciclo vicioso. Mas já conseguir visualizar essa situação, racionalizar, reconhecer e entender que sim, algo não está certo, e isso por si só já é um grande passo. O módulo 04 veio permeado por retornos. Não somente de conceitos da psicanálise, como por retornos para dentro de mim mesma. O ir e vir dentro dos medos e das inseguranças, mas agora com uma lupa, um respiro, um escafandro para os momentos de imersão em lugares sombrios e silenciosos. Sombrios, silenciosos mas não mais temíveis. O medo vem dando espaço à consciência. Ao autoconhecimento. Saber que eles existem (medo, insegurança, lados sombrios, sintomas compulsivos e na minha visão, vergonhosos) já não me angustiam como antes. Os reconheço, identifico, consigo antecipar os gatilhos que levam aos comportamentos destrutivos e repetitivos, e consigo minimizá-los. Não tento mais fazer com que desapareçam. Me permito sentir. Escolho passar pela dor e pelo sofrimento sem culpas, de forma momentânea, humana, como devem ser. A busca pela perfeição, por não desagradar, por não falhar, não ser rejeitada, tem dado espaço a chance de me aceitar com todas essas questões. Antes, evitava situações, envolvimentos e desafios que pudessem colocar à prova minha imagem de perfeição para com o outro, por medo de sofrer. Mas evitar o sofrimento apenas leva para o mais profundo sentimento, justamente, de dor e angústia. Sofrer tentando não sofrer. Acumular mágoas e ressentimentos, a fim de evitar enfrentamentos. Fugir de conflitos. Antigamente tinha a crença de que essa minha característica era quase que altruísta, quando na verdade não passava de uma atitude egoísta e de defesa. Egoísta por visar apenas meu desejo de manter intócavel uma imagem de força e perfeição  e defesa tentando evitar o sofrimento.

Baixei minhas defesas e me permito reconhecer no espelho a mulher que realmente sou. Ela está já ali, sempre esteve, aguardando ainda para não somente ser aceita mas também admirada. Por mim mesma. Para mim mesma.

Desencontros

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