Entrou no elevador no 15º andar. Desceu sozinha até o 13º,
quando então entraram duas criaturas em um animado e acalorado bate papo sobre
a vida alheia:
-Estou te dizendo guria, duvido que ela foi para Paris!
-Mas por que você acha isso?
-Ué, não vi nadica de nada, nem no Insta, nem no Face, nada!
-É, mas tem uma prima minha, que conhece a melhor amiga
dela, que jura de pé junto que viu foto em um álbum, desses de foto impressa
sabe, uma vez que foi na casa dela...
- Ah, e você acreditou? Pois eu acho que não foi! E digo
mais, acho que a vidinha dela deve ser uma chatice! Nunca publica nada, só
compartilha uns textos meio cabeças, umas frases soltas aqui e acolá, umas
notícias que todo mundo vê. Me diz se isso existe? Quem é que vai pra Paris e
não compartilha, não solta nenhuma #parisjet'aime? Fala sério!
- Sabe que você pode estar certa? Só pode, é a única
explicação. Ela não deve é fazer nada de interessante, por isso que não Insta
nada, não compartilha nada...
- Pois é, e nunca vi ela dizer que está "se sentindo
feliz". Vai ver não tá mesmo né? Coitada, deve ser super sozinha!
E as duas desvairadas saem no 5º andar, cada uma já com o celular em mãos, deslizando
os dedos avidamente por novidades da vida alheia, por traços da vida
compartilhada de alguém que tenha ido a puta que pariu, mas pelo menos provou
que foi. A porta se abriu no térreo e a
massa de gente que pelo elevador esperava levou pelo menos três segundos para
dar-se conta de que ele já havia chegado, pois todos, absolutamente todos, estavam com os olhos naquele que, aparentemente, não mente nunca e revela
sempre. Era uma vez a comédia da vida privada. Hoje está mais pra comédia da
vida compartilhada. #EQueAtireAprimeiraPedraQuem nunca.